Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em baixa, em mais uma sessão de retirada de excessos nos prêmios da curva brasileira após a disparada do fim de 2024, em movimento favorecido ainda pelo recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para julho de 2025 -- um dos mais líquidos no curtíssimo prazo -- estava em 13,985%, ante o ajuste de 14,009% da sessão anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 14,94%, ante o ajuste de 14,985%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,95%, ante 15,041% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,78%, ante 14,832%.
Desde o início do ano profissionais do mercado têm avaliado que as quedas nas taxas ocorrem em função da necessidade de se eliminar excessos, após a disparada no fim de 2024.
O fato de o noticiário fiscal estar relativamente esvaziado em função do recesso do Congresso no Brasil é outro fator que permite certo fechamento da curva a termo, valendo a máxima de mercado: “no news, good news” (nenhuma notícia, boa notícia).
“Mas não vejo na curva ganhos sustentáveis em matéria de devolução de prêmios até que o governo apresente medidas adicionais na área fiscal. Mercado fica neste ‘voo de galinha’, sem muita convicção”, avaliou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
“Por mais que vejamos os juros sendo queimados na curva, e prêmios (sendo reduzidos) com menor convicção no dólar, o patamar ainda é muito alto”, acrescentou Spiess, em referência aos níveis das taxas dos DIs e do dólar ante o real.
Nesta quinta-feira, além do movimento de redução de excessos, a curva brasileira fechou na esteira da queda dos rendimentos dos Treasuries, cujo mercado funcionou em horário reduzido em função do funeral do ex-presidente dos EUA Jimmy Carter. A bolsa norte-americana seguiu fechada durante todo o dia, o que reduziu a liquidez nos mercados globais.
Na ponta curta da curva brasileira a redução de prêmios desde o início do ano vai consolidando as apostas para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para o fim de janeiro.
Perto do fechamento desta quarta-feira a curva precificava 76% de probabilidade de elevação de 100 pontos-base da taxa Selic no fim deste mês, contra 24% de chance de aumento de 125 pontos-base. Na véspera os percentuais eram de 66% e 34%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 12,25% ao ano.
“É difícil imaginar uma Selic muito acima de 15% ou 16% no fim do ciclo, porque chega uma hora em que não adianta subir muito para segurar a inflação. Então o mercado vem retirando um pouco do prêmio, ainda que o Focus siga jogando as projeções de inflação para cima”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
Na última segunda-feira o relatório Focus mostrou que a mediana das projeções do mercado para a inflação em 2026 saltou de 4,96% para 4,99% e em 2027 foi de 3,83% para 3,90%. O pico da Selic no atual ciclo, conforme o Focus, será de 15% este ano.
Durante a tarde, em rápida entrevista em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a pasta recomendou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vete todos os pontos do projeto da dívida dos Estados que resultem em impacto no resultado primário das contas públicas.
"O Senado fez um projeto próprio, não era um projeto da Fazenda. O presidente está informado das diferenças entre o que nós tínhamos proposto e o que acabou sendo aprovado, ele está a par dessas diferenças. O que nós estamos levando à consideração do presidente é que tudo que tem impacto primário seja vetado", disse.