Os mercados de soja e milho vêm registrando uma semana negativa até aqui, ainda pressionados pelos fundamentos, em especial o bom desenvolvimento da nova safra dos Estados Unidos. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe, no final da tarde desta segunda-feira (21), seu novo boletim semanal de acompanhamento de safras e apontou que 74% dos campos de milho estão em boas ou excelentes condições. "Este é o melhor índice semanal desde 2016. E classificações fortes deverão continuar a ser observadas durante o verão", afirma a especialista internacional em commodities, Karen Braun.
E são as condições registradas nas próximas semanas que serão determinantes para a definição da produtividade norte-americana não só do cereal, mas também da soja. E sobra a oleaginosa, o USDA informou que são 68% das lavouras em boas ou excelentes condições, índice menor do que o da semana anterior de 70%.
"O milho já foi polinizado ou está sendo polinizado agora. Os únicos problemas potenciais relatados ocorrem no oeste de Iowa. Os impactos da polinização, todavia, ainda não estão claros, por enquanto. Mas, até aqui o milho parece muito bom, com condições adequadas de umidade na maior parte das regiões produtoras", afirma a analista internacional.
Para a soja, ainda segundo Karen Braun, os produtores norte-americanos estão "cautelosamente otimistas". E o que se observa agora é que "o potencial de rendimento atual é médio em comparação com as expectativas de meados de julho, mas o clima recente tem sido favorável. Só precisamos que as chuvas continuem até o mês que vem".
Fotos: Karen Braun
A especialista destaca que, apesar de não trazer ameaças consideráveis à safra 2025/26, o clima para o Meio-Oeste americano ainda não está perfeito. As temperaturas mais baixas no Nebraska, por exemplo, têm contido um pouco do desenvolvimento, com o excesso de chuvas das últimas horas trazendo certa preocupação. Por outro lado, o centro do estado do Kansas está ficando mais seco agora, exigindo certa atenção.
"As temperaturas mais altas do que o normal nesta semana para a maior parte das regiões serão favorável para o desenvolvimento da safra. Chuvas mais fortes esperadas são esperadas para as Planícies do Norte e para o leste do Corn Belt", diz. Já as previsões para as próximas duas semanas mostram uma padrão mais seco no sul e centro do Corn Belt, mas os produtores - salvo os do Kansas - estão preocupados, dados os recentes índices de umidade acumulados".
Os mapas abaixo mostram as previsões do NOAA, o departamento oficial de clima do governo dos EUA, para o período dos próximos 8 a 14 dias, ou de 29 de julho a 4 de agosto. As imagens mostram, respectivamente, as temperaturas acima da média, e as chuvas dentro da normalidade.
E assim, como explica o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa, "o clima no Centro-Oeste dos EUA segue favorecendo uma leve pressão de baixa sobre os preços do milho e da soja. Segundo a World Weather Inc., a próxima semana terá chuvas frequentes e abundantes em grande parte do norte e leste do Centro-Oeste, mantendo boa umidade no solo. Apesar do calor nas Planícies centrais e do sul, a previsão é de que uma crista de alta pressão esperada nas próximas semanas tenha impacto limitado sobre as lavouras, exceto em áreas mais secas dessas regiões".
Para os próximos sete dias, de 22 a 29 de julho, as chuvas deverão ser intensas no Corn Belt, segundo o mapa abaixo, também do NOAA.
Mapa: NOAA
CLIMA BOM, PRESSÃO EM CHICAGO
Para o analista internacional de mercado, do portal Farm Progress, Bryce Knorr, os preços da soja e do milho estão agora dando sinais de que poderão cair de forma significativa, ao passo em que "julho vai dando olá a agosto. Assim, a a questão agora é quanto pode descer - e não subir - o mercado agora". Nas últimas semanas, os preços do milho chegaram a perder o patamar dos US$ 4,00 e os da soja, o dos US$ 10,00 por bushel, porém, se recuperaram.
"Os primeiros dados concretos sobre a produção deste ano devem esperar até que as primeiras pesquisas do USDA com os agricultores e seus campos sejam divulgadas em 11 de agosto. E esses relatórios são apenas o começo das estimativas, que levam meses, se não anos, para serem finalizadas", afirma Knorr. No entanto, o analista pondera. "Os mercados não podem esperar tanto tempo, é claro. E só porque os preços caem não significa que eles não possam voltar a subir. Mas antes de planejar o melhor, é sensato garantir que sua operação possa suportar o pior".
Desta forma, Knorr alerta para o suporte gráfico nos preços dos grãos - do milho nos US$ 3,00 e o da soja nos US$ 8,00 por bushel -, sendo possível não só pelo tamanho das safras dos EUA, mas também pelo comportamento dos fundos. O especialista, baseado em seus modelos e no Índice de Saúde Vegetal das lavouras (VHI, na sigla em inglês) espera produtividades de 191,43 sacas de milho por hectare e 59,6 no caso da soja.
No entanto, as atuais - boas - condições das lavouras norte-americanas sugerem que estes rendimentos pdoeriam ser ainda maiores, podendo chegar a, respectivamente, 197,60 e 61,42 sacas por hectare.
REMÉDIO PARA PREÇO BAIXO É PREÇO AINDA MAIS BAIXO
A outra ponderação de Bryce Knorr frente aos números é a de que "preços baixos atraem demanda". "Colheitas maiores normalmente significam maior utilização também, embora isso seja uma faca de dois gumes: a demanda aumenta porque os preços estão mais baratos", diz. Porém, será necessário, justamente, avaliar o comportamento da demanda pelos grãos norte-americanos e entender o impacto que exercerá sobre os estoques do país e, consequentemente, nos intervalos de preços.
É importante considerar - e continuar contextualizando - que enquanto uma enorme safra de grãos se desenvolve nos Estados Unidos, um grande e confuso imbróglio comercial da maior economia com o restante do mundo cresce paralelamente. A China já não tem comprado soja norte-americana - embora dependa dela e ainda precisa de cerca de 35 milhões de toneladas até o começo de janeiro - e as tarifas já acordadas com o Japão, por exemplo, um dos maiores compradores de milho dos EUA, ou a confusão com a União Europeia preocupam.
Knorr ainda pontua, porém, que a safra não está concluída. "É claro que os rendimentos podem não ser tão robustos quanto os modelos alertam. Nesse caso, se a demanda continuar forte — com um grande "se" — a mínima de US$ 3,64 do ano passado pode ser um ímã". E continua. "As condições das colheitas sempre podem piorar. O calor e a umidade do final da estação e as geadas precoces, sem mencionar as leituras imprecisas de mecanismos de previsão como o Crop Progress e o VHI, podem significar que o pessimismo do mercado é exagerado. Acordos comerciais de parceiros negociando para evitar o pior das tarifas do governo Trump podem dar à demanda uma injeção inesperada de adrenalina. A recuperação do setor pecuário após a gripe aviária e a seca nas planícies pode ter o mesmo efeito na demanda por ração".
Assim, com tantas incongruências postas sobre a mesa dos mercados de milho e soja, o alerta a quem tem negócios a fazer, segundo o analista internacional, é claro: melhor definir o fundo que você não quer alcançar, do que um topo que pode não chegar para definir suas estratégias de comercialização.