"Não tenham dúvidas de que as retenciones se vão durante a presidência de Javier Milei. Eliminar as retenciones é uma obsessão deste governo", afirmou Luis Caputo, ministro da economia da Argentina, em sua conta no X (antigo Twitter), respondendo a um internauta que o apontava sobre os prejuízos que os impostos continuam a trazer aos setor agropecuário. "O agro também vai crescer muito e, desta vez, vai durar por muitos anos".
O ministro argentino havia publicado, antes, sobre os bons resultados do saldo exportador dos setores e energia e mineração. "Pela primeira vez em seis anos, entre energia e mineração teremos um saldo exportador duas vezes maior do que o do agro. Quase 50 milhões de dólares", disse. Em resposta, o internauta disse a Caputo que o resultado pe reflexo do fato do agronegócio argentino será o mais castigado de toda a Argentina e que, caso contrário, sozinho exportaria US$ 3 bilhões. Assim, Caputo disse ainda que será necessário ter paciência e confiança porque "não se ajeitam tantos desastres em um ano e meio. O campo também será próspero".
As mensagens do chefe da pasta da economia na Argentina, porém, não foram bem recebidas pelo campo. "A paciência não te dá renda. Mais do que usar as redes, o ministro tem que sentar-se em um mesa de negociações com a gente do campo", disse Ignacio Kovarsky, presidente da Carbap (Confederação das Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa).
"Este setor é o que mais contribuiu neste governo. Claramente, não há outro setor que esteja contribuindo tanto quanto ele. paciência não basta se não houver rentabilidade. Peça isso a quem tem vantagens ou apoio. O campo está no limite. Se quiserem realmente trabalhar com o setor, terão que sentar à mesa por quatro dias", complementou Kovarsky.
Além da Carbap, mais associações de classe se manifestaram e pediram que as negociações em torno das retenciones sejam o quanto antes retomadas com o governo de Milei.
Quem também se manifestou sobre o assunto foi a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que participou de um almoço com representantes da SRA (Sociedade Rural Argentina) nesta quarta-feira. "Há de se ter paciência porque isso virá. Somos pró-campo. O presidente [Javier Milei] tomou as decisões mais difíceis, que são estabilizar o país, acabar com o "cepo" (controle de importação), abrir as importações, criar novas máquinas para baratear a produção e reduzir a inflação. Então chega um momento em que tudo isso tem que dar frutos. O setor agrícola sabe que as coisas não acontecem da noite para o dia; elas têm que dar frutos, e esses frutos virão", afirmou Bullrich.
A ministra reforçou ainda que o governo tem consciência de que o agronegócio é um dos motores da economia argetina e que por isso o apoio do governo será irrestrito.
Os pedidos continuarão a ser feitos, o pleito deverá se intensificar e o importante agora será buscar saber até quando vai durar a paciência do agronegócio que pleiteia a equipe de Javier Milei.
IMPACTO NO FARMER SELLING DA SOJA
A Argentina assumiu um protagonismo importante no comércio global de soja de março ao final de junho, com uma redução trazida pelo governo de Javier Milei nas retenciones, ou as tarifas de exportação do país. Em 1º de julho, os impostos voltaram ao valor cheio, os argentinos voltaram a ser menos competitivos e ficam até mesmo mais desestimulados em comercializar sua soja ou qualquer outro produto que seja frente às taxas.
"Houve vendas maiores pelo Brasil e pela Argentina e isso dá margem maior para que o chinês fique, relativamente, mais confortável para esperar o que vai acontecer nas negociações entre os governos dos Estados Unidos e da China", explica o head de inteligência de mercados da Stag Securities, Chau Hue, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Na última semana, a China comprou cerca de 30 cargos de soja, sendo apenas dois da Argentina, o restante do Brasil, segundo o analista do complexo soja e diretor da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin. No entanto, o especialista destaca para o acumulado desde junho, que mostra como a baixa nas retenciones fez diferença no farmer selling da Argentina. "Já foram 81 cargas argentinas negociadas, contra 151 brasileiras. Nenhuma dos EUA. O desconto da soja argentina sumiu, e o farmer selling por lá secou nos últimos dias. O mercado começa a virar?", diz Vanin.
Total de cargos de soja negociados pela China nas últimas sete semanas Gráfico: Agrinvest Commodities
No entanto, apesar de serem uma alternativa considerável e importante para os chineses - que ainda precisam comprar cerca de 35 milhões de toneladas de soja até o começo de janeiro de 2026 - a Argentina do agronegócio está novamente debruçada sobre sua batalha de décadas pela busca em derrubar as retenciones. Nesta quarta-feira, o ministro da economia argentino, Luis Caputo, voltou a prometer ao setor que a taxa vai cair.