Mesmo com o consumo global em declínio, os estoques brasileiros de suco de laranja estão entre os mais baixos das últimas quatro décadas. A menor safra de 2024/25 reduziu o excedente industrial, e parte do produto armazenado tem qualidade inferior. A expectativa é que a safra 2025/26 - já iniciada, e mais volumosa, recomponha parcialmente os estoques e eleve o padrão do suco, ainda que sem recuperar o nível de folga observado antes de 2020. Esse movimento pode manter os preços em menores patamares nesta nova temporada.
A demanda global, no entanto, segue pressionada. Mudanças nos hábitos de consumo e a busca por produtos com menor teor de açúcar afastaram o suco de laranja das mesas, especialmente no café da manhã. O consumo vem sendo substituído por refrigerantes, águas saborizadas e outras bebidas de baixa caloria, além de sofrer com o impacto de preços elevados. Nos Estados Unidos, o preço do suco atingiu o valor recorde de US$ 4,48 por lata de 473 ml em março de 2025, e pode subir ainda mais caso a nova tarifa de 50% sobre o produto brasileiro seja repassada ao consumidor.
Mesmo com o consumo em queda, o mercado americano continua altamente dependente do Brasil. A produção doméstica sofre com o avanço do greening e com os efeitos de eventos climáticos extremos. Na Flórida — responsável por 90% da produção de suco dos EUA —, a safra atual deve ser a menor dos últimos 90 anos, com menos de 12,1 milhões de caixas, queda de 33% em relação ao ciclo anterior. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que mais de 90% do suco consumido no país será importado em 2024/25, sendo que Brasil e México responderão por mais de 95% desses envios.
A tarifa de importação que incide sobre o suco brasileiro já era de US$ 415 por tonelada de FCOJ (suco concentrado congelado), como forma de proteger os citricultores locais. Agora, com o acréscimo de uma taxação de 50%, o custo de entrada do produto no mercado americano pode ultrapassar US$ 2.600 por tonelada, considerando o preço médio de exportação da última safra (US$ 4.300/t). Esse cenário pode limitar as vendas, mesmo com uma recuperação do volume exportado em 2025/26. A expectativa é de melhora nos embarques, mas com preços mais baixos, o que pode impactar negativamente a receita do setor.
Fonte:
Itaú BBA