(Reuters) - As ações da Cosan desabavam nesta segunda-feira, após anunciar uma capitalização até R$10 bilhões, em uma operação que busca otimizar a estrutura de capital e fortalecer a governança do grupo, mas representará uma forte diluição para acionistas.
A Cosan enfatizou que os recursos não serão usados para capitalizar a Raízen, o que também derrubava os papéis da companhia, uma joint venture entre Cosan e Shell.
Por volta de 12h15, Cosan ON recuava 22,53%, a R$5,81, enquanto Raízen PN cedia 9,3%, a R$1,17, capitaneando as perdas do Ibovespa, que caía 1,05%.
Na menor cotação até o momento, Cosan marcou R$5,63, equivalente a uma perda de quase R$3,5 bilhões em valor de mercado em relação ao valor da sexta-feira.
O aporte está sendo ancorado por um consórcio de investidores composto por Aguassanta -- veículo do controlador da Cosan, Rubens Ometto-- , BTG Pactual Holding e Perfin Infra em valor agregado de R$7,25 bilhões e deve reduzir a dívida líquida dos atuais R$21,5 bilhões para R$7,5 bilhões.
A Aguassanta continuará como sócio controlador da Cosan, com 50,01% das ações vinculadas ao acordo. Haverá um acordo de acionistas, com prazo de 20 anos.
De acordo com analistas do Citi, o aumento de capital por meio de duas ofertas públicas primárias de ações implica uma diluição de 40% a 50% para os atuais acionistas. Mas eles ponderaram que o negócios será positivo para a Cosan.
Entre as razões para tal visão, Gabriel Barra e Pedro Gama destacaram que a companhia poderá seguir uma trajetória saudável de geração de caixa e deve se aproximar em breve da meta de índice de cobertura de juros de 1,5 vez.
Em relatório a clientes nesta segunda-feira, eles também citaram que os novos parceiros devem contribuir nas discussões sobre alocação de capital e gestão da Cosan, que poderá reduzir endividamento sem comprometer a qualidade do seu portfólio.
"Acreditamos que a empresa está entrando em uma nova fase, que deverá ser marcada pela desalavancagem da holding, ao mesmo tempo em que poderá se aproximar de tratar do plano de sucessão de Rubens Ometto", acrescentaram os analistas do Citi.
Em teleconferência sobre a transação, o diretor financeiro, Rodrigo Araujo, e o presidente da Cosan, Marcelo Martins, disseram que ela é resultado de um "longo processo competitivo", na busca do conglomerado para reduzir seu elevado endividamento.
No final do segundo trimestre, a dívida líquida do grupo somava R$17,5 bilhões.
Analistas do UBS BB também consideraram a diluição "forte", mas afirmaram que a operação é um passo positivo no esforço da Cosan para desalavancar e tem potencial para gerar valor no longo prazo.
"Muito mais do que a contribuição financeira, essa operação traz dois importantes novos acionistas com expertise nos setores para o grupo controlador: a holding do BTG (não o banco) e a Perfin", ressaltaram Matheus Enfeldt e equipe em relatório enviado a clientes.
Eles também citaram que, embora o desconto em relação ao fechamento de sexta-feira seja grande, de 33,3%, ele é apenas 4,2% abaixo das mínimas de R$5,22 da Cosan, preço em que a ação estava sendo negociada há 32 dias, antes das notícias sobre a possível captação de recursos e desinvestimentos.
Apesar da direção positiva, contudo, eles também citaram que a proposta tem um desconto grande e limita a participação de outros investidores a 27,5% da oferta.
"A reação inicial do mercado foi negativa..., mas vemos a Cosan emergindo muito mais saudável após o processo, já que a totalidade dos recursos será usada para pré-pagamento da dívida, aliviando a pressão de curto prazo".
(Por Paula Arend Laier)
Fonte:
Reuters